24/11/14

OE 2015 Transportes - Posição do MUSP

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O conjunto das propostas inscritas na proposta de Orçamento do Estado para o ano de 2015 reforçam e aprofundam as desigualdades sociais, o empobrecimento do povo e do país, a destruição dos serviços públicos e a aniquilação das funções sociais do Estado, numa clara opção ideológica e política do governo em benefício evidente dos grandes grupos económicos nacionais e internacionais.
Em 2015 os portugueses, nomeadamente os trabalhadores e os pensionistas, vão pagar mais impostos (mais 2.006 milhões de euros) e as empresas, por via da redução da taxa de IRC, vão acrescentar aos seus lucros muitos milhões de euros.
A redução do IRS anunciada pelo governo não passa de ficção tendo em conta as condicionantes colocadas para se efetivar e a introdução de um imposto indireto (fiscalidade verde), enquanto a redução da taxa de IRC já se encontra em vigor.
Quanto à fiscalidade verde apresentada como medida para a proteção do ambiente, visa, no fundamental, obter mais receita fiscal.
A introdução da tributação sobre o carbono (15€ por tCO2), vai determinar o aumento do preço dos combustíveis em cerca de 3% com a agravante de aumentar também a contribuição sobre o setor rodoviário, integrado no ISP, em mais 160 milhões de euros, o que provocará o aumento das tarifas dos transportes.
Nos últimos anos, empresas chave em setores estratégicos, como a EDP, a ANA, os CTT, a Caixa Seguros foram privatizadas. O governo pretende agora concluir a venda da Caixa Seguros e da EGF, avançar com a privatização da TAP, ainda este ano, iniciar o processo de concessão da Carris, do Metro de Lisboa e Porto, do STCP e proceder a novas privatizações em 2015 como a CP Carga e a EMEF.
No que já é conhecido, o caderno de encargos da subconcessão/privatização dos STCP e Metro do Porto consagra garantias de equilíbrio financeiro para as empresas privadas (vulgo lucros garantidos) e sem qualquer garantia para os utentes nem trabalhadores.
De facto, no caso de redução de utentes em relação ao número esperado e/ou menores receitas, as condições da subconcessão serão revistas para que os lucros se mantenham. No imediato é permitido aos operadores privados que adjudicarem a subconcessão/privatização reduzir carreiras e frequências em 10% e aumentar ainda mais as tarifas. È de notar que nos últimos anos as tarifas dos transportes sofreram aumentos brutais.
Temos mais uma nova versão das PPPs: o estado fica com as dívidas, os privados ficam com os lucros e os utentes pagam mais por piores serviços.
O governo não só avança com a delapidação do património público como se propõe reduzir de 85 milhões de euros as indemnizações compensatórias para as empresas públicas de transportes, o que indicia novos ataques aos direitos dos seus trabalhadores, a redução de serviços e o aumento dos preços dos transportes para os utentes.
Esta opção do governo pela privatização destes importantes e estratégicos sectores de atividade assumem uma gravidade de enormes proporções para os utentes, trabalhadores e populações, para o país e para a própria economia nacional, em benefício claro dos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros.
Nos últimos anos temos assistido a uma degradação acentuada dos transportes públicos e a um brutal aumento das tarifas o que levou à redução drástica do número de utentes dos transportes. Esta redução resulta da conjugação de dois fatores: aumento das tarifas e redução da oferta. Ficaram a perder os utentes, os trabalhadores desta área, o ambiente e mesmo a economia nacional.
            Os exemplos ilustrativos destas consequências não faltam.
A RN foi criada em 1976 e privatizada em 1996 porque, diziam os governantes da altura “um monopólio estatal não favorecia as populações”. Vinte e dois anos depois já não há serviço de transportes rodoviários em grande parte do país, contribuindo para a desertificação do interior. Hoje muitas carreiras privadas, mesmo com altas tarifas, não funcionam todos os dias da semana nem fora das “horas de ponta” penalizando quem trabalha por turnos, mas também jovens e idosos que não têm outra alternativa de transporte. Isto é tanto mais grave quando o Governo encerra serviços públicos básicos (escolas, extensões de centros de saúde, tribunais,…) por todo o país.
As Comissões de Utentes de Cascais e Sintra reclamam junto da Administração da SCOTURB (empresa privada) do mau serviço prestado e das altas tarifas praticadas: horários sem articulação com a CP; horários sem articulação com outras carreiras da empresa; informação deficiente dos horários praticados; velocidades excessivas para cumprir horários; avarias frequentes; carreiras lotadas; retirada de carreiras aos fins de semana e à noite.
A Comissão de Utentes de Santo António dos Cavaleiros reclama do mau serviço prestado pela Barraqueiro (empresa privada): tarifas mais caras; falta de informação sobre os horários; não adesão ao sistema de tarifas intermodais; não ligação à estação do metropolitano de Odivelas; poucas carreiras para o Hospital Beatriz Ângelo, ….
A Comissão de Utentes de Odivelas reclama mais e melhores transportes para o Hospital Beatriz Ângelo, nomeadamente que a Rodoviária de Lisboa coloque autocarros que entrem no recinto do Hospital: Mini ou Midi Bus para além de carreiras mais frequentes e aos fins de semana.
Estes exemplos não esgotam os problemas que as populações enfrentam para exercerem o direito à mobilidade quando não dispõem de transporte próprio.
A subconcessão/privatização dos transportes públicos na zona de Lisboa e Porto só vem agravar o problema e retira ao Estado a definição de uma política para a área da mobilidade que seja incentivadora da utilização do transporte público em detrimento do transporte individual.
A introdução de portagens nas ex-scut veio acrescentar ainda mais dificuldades ao usufruto do direito à mobilidade.
No caso da TAP, a prosseguir a sua alienação, seria liquidado o setor de transporte aéreo nacional.
Estamos mais uma vez perante propostas e medidas que não favorecem os interesses das populações nem promovem o crescimento económico e a criação de emprego e permitam garantir condições de vida dignos a todos os cidadãos. A política desenvolvida pelo governo e que está espelhada nesta proposta de Orçamento de Estado para 2015, não só leva ao empobrecimento da população portuguesa como lhe retira direitos fundamentais como o direito à mobilidade.
O Movimento de Utentes dos Serviços Públicos, como organização dos utentes a nível nacional considera fundamental a inversão da política seguida e defende, nomeadamente:
·         Defesa e melhoria do serviço público de transportes;
·         Não à concessão / privatização dos transportes públicos;
·         Não à privatização da TAP;
·         Defesa do passe social intermodal e o seu alargamento a outras zonas do país e a todos os operadores;
·         Exigir o alargamento das atuais coroas;
·         Exigir melhor articulação e coordenação entre os vários meios de transporte e operadores;
·         Abolição das portagens;
·         Manutenção das condições de segurança das vias rodoviárias, com realce para a melhoria dos pavimentos e sinalização vertical e horizontal.
É necessário uma mudança de política que tenha em conta os interesses das populações.
Lisboa, 21 de novembro de 2014
Movimento de Utentes dos Serviços Públicos

Orçamento da Saúde para 2015 - Posição do MUSP

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O Movimento de Utentes dos Serviços Públicos-MUSP vem reclamar uma política de saúde que sirva realmente todos os portugueses, através do Serviço Nacional de Saúde.
O SNS deu um contributo que, não sendo o único, foi decisivo para a melhoria muito significativa dos indicadores de saúde em Portugal apesar da ofensiva a que tem sido sujeito ao longo dos seus 35 anos de existência. 
De facto, num relatório sobre a saúde em 34 países recentemente publicado pela OCDE é sublinhado que Portugal é o 5º país com melhor evolução na esperança de vida, é o primeiro no declínio da mortalidade infantil, está acima da média no indicador global para resultados em saúde, sendo o 2º com melhor evolução entre 1970 e 2009, mas é, no entanto, o 3º País em que a despesa pública menos cresceu.
A redução da despesa do Estado com a Saúde, num espaço de quatro anos, obriga os utentes a suportar, através do seu orçamento familiar, uma parte maior dos custos com a saúde, significando que quem não pode pagar não tem acesso à saúde.
Neste momento, com a política de cortes na despesa pública, Portugal é, assim, o país onde as despesas das famílias com a saúde mais cresceram (4,2% do seu orçamento quando a média dos países da OCDE era de 3,2%). Atualmente cerca de 28% do total das despesas em saúde é pago diretamente pelas famílias, fundamentalmente em resultado da existência das taxas moderadoras mas também do crescente aumento da procura dos cuidados de saúde em instituições privadas.
A redução de 1.667 milhões de euros na despesa com o Serviço Nacional de Saúde, entre 2010 e 2014, passando, de acordo com dados do Ministério da Saúde, de 9.710 milhões de euros para 8.043 milhões, mostra a intenção do Governo de destruir o SNS, através do seu estrangulamento financeiro e quebra do investimento público. Para 2015 o governo propõe um montante de despesa de 8 116,8 milhões de euros. O ligeiro aumento em relação a 2014 não é suficiente para resolver os estrangulamentos verificados no funcionamento do Serviço Nacional de Saúde.
Com grandes preocupações, as populações, os utentes, vêm o acesso aos cuidados de saúde primários, continuados e paliativos, cada vez mais difícil, em consequência de:
  • Encerramento de serviços de proximidade – centros e extensões de saúde, urgências hospitalares e SAP, maternidades;
  •  Redução de horários de funcionamento de serviços e valências, ficando os utentes sem resposta no período noturno e nos fins de semana e feriados;
  • Encerramentos e transferências de valências hospitalares;
  • Continuação de uma situação insustentável de cerca de 1,6 milhões de utentes sem médico de família;
  •  Grandes dificuldades no funcionamento das urgências hospitalares, consequência da falta de uma verdadeira reorganização hospitalar;
  •  Falta de camas na rede de Cuidados Continuados, dando prioridade à resolução de assimetrias, sendo as Regiões da Grande Lisboa e Porto as mais necessitadas;
  • Falta de meios técnicos, humanos e financeiros para o regular funcionamento dos hospitais e centros de saúde;
  • Pagamento de taxas moderadoras elevadas e injustas, diminuindo o número de utentes isentos;
  • Dificuldades no acesso fácil e imediato às viaturas de emergência, insuficientes e, por vezes, inoperacionais;
  • Más condições de funcionamento de hospitais e centros de saúde.
Concluindo: a enorme degradação dos serviços públicos de saúde, com fechos de serviços e valências, de unidades de saúde e urgências, com a falta de técnicos de saúde, de equipamentos, de material médico e de camas e com o aumento dos custos para os utentes, como acima se enumera, irá ser seguida com este OE para 2015 que aponta na continuação da mesma política e que confirma os eixos essenciais do Governo de desmantelamento das funções sociais do Estado.
A degradação do serviço público para “virar” os utentes contra o Serviço Nacional de Saúde e, assim, facilitar a aceitação da sua privatização, a transferência dos custos do Estado para os utentes, a compressão dos direitos dos profissionais do Serviço Nacional de Saúde são algumas linhas estratégicas que apontam para um processo de privatização.
E no OE para 2015, na Saúde são inscritos 1.320 milhões de euros em PPP-Parcerias Público Privadas, prevendo-se o lançamento de mais PPPs no sector da Saúde. Por outro lado, está previsto a entrega ao setor social, nomeadamente às Misericórdias de mais hospitais, como recentemente sucedeu com os hospitais de Anadia, Fafe e Serpa.
O Movimento de Utentes dos Serviços Públicos, como organização de utentes a nível nacional, considera fundamental a inversão da política de cortes cegos na despesa sem ter em conta os interesses das populações e apresenta como grandes linhas reivindicativas:
  • Defesa do Serviço Nacional de Saúde geral, universal e gratuito conforme inscrito na Constituição da República Portuguesa;
  •  Revogação das taxas moderadoras, garantindo que todos os utentes independentemente da sua condição económica e social possam aceder aos cuidados de saúde;
  • Isenção de encargos com transporte não urgente de doentes, tendo em consideração as necessidades da prestação de cuidados de saúde aos utentes;
  • Dotação do Serviço Nacional de Saúde dos profissionais de saúde necessários ao seu bom funcionamento e respeito pelo seu estatuto profissional;
  •  Revogação do Decreto-lei nº. 138/2013, de 9 de Outubro, com vista a impedir o processo de transferência dos hospitais do setor público para o setor social, mais concretamente para as Misericórdias;    
  •  Médico e enfermeiro de família para todos os utentes;
  •  Articulação entre os diversos níveis de cuidados de saúde, particularmente nos cuidados de saúde pública e cuidados de saúde primários e reforço da rede de cuidados continuados e paliativos;
  •  Reforço da organização dos meios de emergência médica.
O Movimento de Utentes dos Serviços Públicos-MUSP, no cumprimento do direito constitucional à proteção da saúde, solicita a tomada de medidas em defesa do Serviço Nacional de Saúde que respeite o princípio da equidade e o pleno acesso das populações a cuidados de saúde de qualidade.
21 de novembro de 2014
Movimento de Utentes dos Serviços Públicos